domingo, 1 de abril de 2018

domingo, 8 de outubro de 2017

E a meta é...


Nossa, que linda! Que desenho! Puxa, que delicadeza para algo que já foi venenoso! Como é colorida! Meu Deus, que perfeição inacreditável! Que leveza! 
Certamente você já ouviu ou até fez um comentário deste tipo. Meu marido e eu costumamos ouvir comentários do gênero durante os varais fotográficos que realizamos duas vezes ao ano na Praça da Matriz na cidade de Cunha.

Já arriscou um palpite do que se trata? Estou falando de pessoas diante de fotografias de borboletas, insetos ativos durante o dia e na maioria de cores vistosas, e de mariposas, insetos de hábitos noturnos e cores apagadas.

No rosto e na voz, encanto e espanto, apesar de que acredito tratar-se de pessoas cientes do conjunto de transformações que acontecem durante o ciclo de vida das borboletas e mariposas, conhecido por metamorfose. No entanto, também estou convencida de que são pessoas que pouco toleram ovos ou lagartas em suas plantas ou casulos “sujando” paredes ou janelas da casa. Ou seja, pessoas que, infelizmente, inclusive sem saber, pouco contribuem para a proliferação destes insetos.

Feias ou não, tóxicas ou não, as lagartas são necessárias para que haja borboletas ou mariposas. Tem quem duvide, mas toda e qualquer lagarta vira borboleta ou mariposa. E estes insetos são extremamente importantes, visto que são agentes polinizadores e a polinização é um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da tão falada biodiversidade.

Quem elimina lagartas ou casulos de seu jardim ou varanda, terá muito pouca chance de observar borboletas ou mariposas em seu entorno. Pode até ocorrer que em dado momento uma determinada planta deixe de produzir flor ou fruto. E aí, José?

Aí a coisa pode ficar bem feia. Entendo perfeitamente o desgosto de ver a couve cheia de lagartas esfaimadas. E aquela planta no vaso que amanhece sem folhas e sem flor! Já passei por tudo isto e sei que não dá para encarar com largo sorriso na boca. Também entendo que alguém queira suas paredes e janelas limpas, isentas de casulos. Mas não me peçam para entender quem opta por intervir de forma drástica, muitas vezes quimicamente, contribuindo, nem que seja minimamente, para a extinção de tão importante inseto.

A importância dos lepidópteros não se resume à já comentada polinização. Eles são ecologicamente e economicamente importantes e fazem parte da cadeia ecológica na fase imatura (ovos, lagartas e casulos) e na fase adulta. Os ovos dos lepidópteros podem ser parasitados por outros insetos e aves. Sapos, roedores e insetos, entre outros, podem se alimentar das lagartas. Os casulos, por sua vez, podem ser parasitados por moscas e vespas. E não esqueçamos da importância econômica dos casulos do bicho-da-seda asiático, com fio contínuo! Quem não teve, tem ou gostaria de ter uma peça de seda natural? A amoreira, planta-alimento das lagartas desta espécie, cresce bem no Brasil. Pena que o bicho-da-seda brasileiro tem fio descontínuo!

Se cada um de nós procurar o equilíbrio saudável, podemos conviver pacificamente com todas as fases de um lepidóptero. Para uma plantação de maior porte, sugiro tentar o controle biológico através de dicas encontradas na Internet. Para um espaço com ervas destinadas ao consumo da família, aconselho algo menos complicado, como plantas repelentes que afastam algumas lagartas do canteiro (citronela, cravo-de-defunto, menta e coentro, entre outros). Para algo de tamanho médio, pode-se tentar plantar alternadamente espécies que não sejam hospedeiras da mesma praga. Ocorrerá a quebra ou interrupção do ciclo de desenvolvimento das mesmas. Porém, dificilmente acabaremos com a espécie.

Venho observando há anos (e de mansinho) o ciclo de vida dos lepidópteros. Sou apaixonada pelo mágico momento da ruptura do casulo, quando um novo ser emerge e paciente aguarda a distensão e consistência de suas asas para então fazer o reconhecimento de seu território e encantar a todos com seu gracioso e leve voo. Se você é do tipo curioso e quer ter uma ideia melhor das diferentes fases, sugiro acessar http://www.fotosquecontamhistorias.com.br/tag/casulo/

Quer arriscar e ter mais borboletas ao seu redor? Procure cultivar hortaliças e flores que as atraem e aproveite a oportunidade para observar de perto o ciclo de vida dos lepidópteros. Simplesmente porque você merece viver em um mundo mais colorido. 

Para arrematar, um curto filme cheio de vida. Meta, metamorfose!

(Renate Esslinger)



quinta-feira, 6 de abril de 2017

O quê! Geco?

Com a permissão dos leitores, mais uma vez não falarei de aves. Decidi defender um bichinho originário da África, muito comum em todo o território nacional, inclusive em áreas urbanas.   

Geco. Assim mesmo. Se preferir, taruíra, catonga, briba, biba, osga, sardanisca ou sardanita. Vulga lagartixa. Em latim a espécie mais comum é denominada hemidactylus mabouia. Ufa, mais designações do que jamais pensei!

Pertencente à família gekkonidae (geconídeos) de répteis escamados, muito provavelmente originária da África, a lagartixa é ágil pelo chão, mas prefere paredes e consegue até ficar em tetos graças às “forças de van der Waals”, forças que realmente não pretendo explicar aqui, mas que você pode entender melhor ao procurar pelo termo na Internet. Fica a seu critério.  

Muitos qualificam a lagartixa como bicho nojento. Pobre bichinho! Tão limpo, tão inofensivo, tão útil!

Bastante higiênico, este pequeno animal não costuma constar da lista de animais ofensivos à saúde humana. Cabe, no entanto, lavar as mãos após contato com uma lagartixa. Prevenir sempre é sensato.

Seus hábitos noturnos são de grande serventia, principalmente para o meio ambiente. Afinal, a lagartixa funciona como controladora de pragas domésticas. Sabe aquela aranha e barata que você detesta? Pois é, estes dois pratos são bastante apreciados pela lagartixa. Escorpiões e os hoje mais do que nunca temidos pernilongos também fazem parte do menu deste réptil.   



Em casa a varanda torna-se um lugar aconchegante para bons espetáculos após o anoitecer. Aquele que tem paciência pode observar cenas cômicas e tragicômicas, bem como a espetacular velocidade de uma lagartixa que só se dá por vencida após devorar o inseto que virou seu alvo.

Há também momentos de total concentração e imobilidade por parte da lagartixa (e confesso que ao observar tal cena quase nem respiro). O inseto acredita estar em local super seguro e segue seu rumo normalmente. E, repentinamente, o brutal ataque. Pronto, um inseto a menos para perturbar.

Como a lagartixa consegue andar no vidro, sempre me divirto ao ver uma através do vidro de uma janela. Ou seja, eu dentro de casa, ela fora. Na maioria das vezes, neste caso, à espreita de uma mariposa de porte pequeno ou até médio. Certamente um jantar diferenciado e que tem de ser consumido lentamente em função do tamanho da presa. Aliás, por diversas vezes consegui observar que ela primeiro agita o bichinho na boca para devorá-lo morto ou, ao menos, quase morto.

Outra peculiaridade da lagartixa é a capacidade de perder a cauda, ao menos ao sentir-se ameaçada. Uma forma bem original de enganar os predadores pelo processo que leva o nome de autotomia.  Não é algo que se vê sempre, mas, acreditem ou não, há dois dias encontrei uma lagartixa sem rabo na parede do dormitório. Se você precisa ver para crer, espero que as fotos tiradas com e sem zoom sirvam de prova. Um minúsculo elemento numa parede grande e péssima iluminação. Não vale reclamar que falta qualidade. Era tarde e eu ia deitar quando decidi pegar a máquina fotográfica e fazer o registro. Sonolenta mesmo.  


 Vamos falar de inimigos. Quem não os tem? No caso da lagartixa, além de gatos domésticos e de cobras, o maior inimigo é o ser humano. Já peguei muita gente munida de grandes vassouras para dar cabo de uma ou mais lagartixas. Para ser sincera, não entendo bem a razão de tanta aversão e espero que você não passe mal ao ver as fotos. 

“Geco sim”. Porque a natureza agradece.









Renate Esslinger

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Está na hora de lagartear.


Independente da região onde meu caro leitor resida, tenho certeza de que aprecia lagartear.
Segundo o dicionário Houaiss, um dos significados deste verbo é aquecer-se ao sol, como faz o lagarto. Sem os exageros de anos atrás, quando - tenho certeza -  muitos de nós costumávamos ficar ao sol sem qualquer proteção e a qualquer horário, lagartear faz bem e pode renovar nossas energias.

Como convivo com o lagarto popularmente conhecido como teiú, é dele que posso falar. Segundo informações na Internet (Wikipédia, entre outros), o teiú é um dos maiores lagartos do Novo Mundo, podendo atingir até 2 metros de comprimento. Dos exemplares que dividem a propriedade comigo, um dos maiores deve ter aprox. 1,60 m (“de cabo a rabo”). Os recém-nascidos são lindamente esverdeados e causam bem menos impacto, mas têm crescimento relativamente rápido.

Após um bom período de hibernação, os mais atrevidos saem da moradia subterrânea em outubro e são prato cheio para curiosos como eu. Da janela costumo observar quando começam a lagartear por volta de 8 da manhã.  E, uma vez aquecidos, estão prontos para desbravar a região. Como a população de teiús tem aumentado anualmente, não são raros os momentos em que estão nas proximidades da casa, às vezes bebendo água, sim "senhô", em um dos recipientes originalmente preparados para as aves, perambulando pela varanda, curiosos para saber o que há na cozinha, ou mesmo dentro da cozinha. Neste caso tenho de confessar que solto um gritinho quando um teiú me pega de surpresa. Porém, independente de seu tamanho, ele é o primeiro a correr e desaparecer no jardim. Na fuga ele é extremamente rápido, quase “levanta voo”. No mais, acredito que a espécie seja inofensiva nesta situação específica, mas cautela vai sempre bem.  



Galinhas garnisés, seus ovos e pintinhos correm sérios riscos durante o verão todo. Entretanto, vale lembrar que ovos de cobra também são apreciados, garantindo – ao menos no que diz respeito ao meu jardim - mais um ponto positivo na avaliação do teiú.   


Muitos podem achar “um horror”, mas o teiú tem papel fundamental na limpeza do terreno, já que também aprecia carniça e faz excelente trabalho em parceria com os urubus. Aliás, se a gente parar para pensar, a natureza é muito sábia e nela nada se desperdiça. Para quem não se incomoda com cenas “menos apetitosas”,  recomendo o vídeo “reciclar”, todinho filmado em casa, provando que o convívio pacífico é possível: https://www.youtube.com/watch?v=m_H0moG4Fss

No menu do teiú também estão a grumixama e a gabiroba (também guabiroba), duas frutas suculentas e muito deliciosas, bastante comuns (e infelizmente pouco conhecidas) na região de Cunha. Neste caso sugiro um vídeo “light” com menu basicamente vegetariano:


Para o deleite de quem curte répteis, tenho para você, além dos vídeos sugeridos, algumas fotos feitas por mim e pelo meu marido. Tomara que você goste!  

Seja como for, 2016 chega ao final em altíssima velocidade e quero aproveitar para desejar a todos um novo ano com fé renovada, paz e harmonia, com muito tempo para curtir os amigos, a família e a nossa maravilhosa natureza!

Pretende entrar energizado em 2017? Então está na hora de lagartear!

 Renate Esslinger 

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Acreditamos e conseguimos flagrar o casal. Salve o saí-andorinha!

Leitores amigos.

Sou uma pessoa positiva. No artigo sobre a ave saí-andorinha escrevi que lamentava muito não ter imagens do macho ao lado da fêmea. Acreditei que uma hora a chance bateria à porta e hoje posso mostrar um curto filme, pois meu marido flagrou o casal bebendo água no jardim, para o deleite daqueles que apreciam o que a natureza nos oferece de melhor. Salve o azul! Salve o verde! Porque continuo querendo ambos.

Renate Esslinger
Cunha/SP

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Azul que também quero verde!

Azul que também quero verde!

Nada discreta, esta ave nos deixa boquiabertos as poucas vezes que resolve aparecer no jardim. O macho, de azul intenso, face e garganta pretas e ventre branco, sabe como ser imponente, apesar de tímido. Não permite que cheguemos perto para tirar fotos. Ainda por cima há o fato de que nem sempre estamos com a máquina fotográfica pronta no momento em que ele sorrateiramente aparece.

Nesta espécie, o dimorfismo sexual (a diferença entre o macho e a fêmea) é bastante acentuado e espero que as mulheres não se sintam ofendidas, mas a fêmea não chega aos pés do macho, apesar de ser (discretamente) charmosa. Confesso que sua cor verde tem efeito relaxante sobre mim. 

De bico curto, boca grande e larga, esta ave alimenta-se de frutos e insetos que costuma apanhar no ar. Um fruto de caroço muito grande tem a sua polpa retirada no esôfago e o caroço é regurgitado e dispersado no solo.  Mais uma espécie para nos ajudar na preservação de ricos frutos!     

Como costuma escavar barrancos para a nidificação, é compreensível que não tenhamos verificado ninhos desta espécie em nossa propriedade. E, apesar das aves desta espécie terem o costume de se agruparem em sociedade relativamente estruturada, nossos registros são de indivíduos isolados e casais.  

Sem dúvida uma ave que merece nossa atenção. Quando sobrar um tempinho, pode dar uma pesquisada na Internet. Vale a pena, você vai encontrar filmes e fotos lindas. Meu marido Árpád, responsável por grande parte da cobertura fotográfica dos artigos que escrevo, já fez alguns registros, mas apenas dois têm o mínimo de qualidade para acompanhar este artigo, ressaltando que a fêmea foi fotografada em 2015 e o macho há aprox. 1 mês, quando fez uso de uma de nossas “banheiras” para aves, localizada no solo. Podemos dizer que confiou no pedaço”, pois bebeu água e chegou a banhar-se.  

Há cerca de uma semana meus olhos (e infelizmente apenas meus olhos) tiveram o prazer de registrar um momento singular. O  macho e a fêmea usaram juntos uma de nossas “banheiras”. Quem sabe consigo uma foto num outro dia! Tenho de ficar esperta nas primeiras horas da manhã e antes do anoitecer.     

Empolgada em compartilhar os raros momentos vivenciados ao lado de tão belo exemplar de nossa fauna, quase esqueço de deixar registrado o nome de tanta formosura. Cientificamente conhecida como tersina viridis, esta ave de aprox. 14 cm de comprimento pesa, em média, 30 gramas e leva nomes populares como saí-andorinha, saíra-andorinha, sanhaço-do-barranco, sairão, entre outros.

Lembremos que o tráfico de aves silvestres é crime. O projeto Canto sem Fronteira, de cunho particular, desenvolvido na região de Cunha, continua firme e forte desde 2012, percorrendo escolas da região e esclarecendo crianças e adolescentes.

Confio na sorte e sei que poderei admirar muitos exemplares do saí-andorinha nas nespereiras de casa, carregadas de frutos. Salve o azul que também quero verde!

Renate Esslinger


 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Rumo à volta

Leitores amigos!

O site do Canal39 sofreu inovações. "Câmera ao alvo!" está no formato de um blog. Lisonjeadas ficaram especialmente nossas aves; elas continuarão encantando. 


No entanto, como amante da natureza em sua totalidade, peço permissão aos leitores para incluir outros temas neste blog. Penso em insetos, árvores, flores...


O primeiro artigo está no "forno" e, para matar a saudade da linha que vinha seguindo, falarei de uma ave. Aguarde mais um pouquinho. 


Ao Canal39 meus mais sinceros agradecimentos pela oportunidade renovada!

Renate Esslinger